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Pequenos Textos com histórias variadas:

 

Numero 1

 

E tu és diferente… Como aquela frase enigmática que se lê nas garrafas de 7 UP  quando as levas à boca…

Tão diferente… Tão enigmático… E juntavas a 7 UP na tua cerveja para misturares os sabores das duas, num maravilhoso e único sabor…

Maravilhoso e único sabor…

Bebi dos teus lábios com a ânsia louca de uma sede jamais satisfeita e até hoje…

Até hoje recordo esse teu maravilhoso e único sabor…

Dos teus lábios carnudos e sedosos nos meus…

Recordo como se misturavam em nossas bocas os nossos sabores…

Recordo como tudo começou…

Como das bôlhinhas de uma 7 UP , se despertou uma paixão, uma loucura… um desenfrear louco de sentimentos, de desejos, sem olhar para trás, sem temer, sem pensar…

E ainda foram alguns meses que mergulhamos num pleno extasie de correr contra o vento, o frio, a chuva…

Num atrofio louco…

 

 

 

 

 

 

                                                                    30/Julho/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

Número 2

 

Vi-te entrar…

Vi-te entrar naquele café de bairro… Seguias atrás de uma moça de cabelos cumpridos aos caracóis, meio morena…

Ela entrou de furacão… E tu suavemente com um ar trafulha, sedutor…

Pisavas o chão devagarinho e risonho…

Eu estava sentada numas das mesas e dava para perceber que o vosso diálogo evidenciava o terminus de uma relação, um flirt, de um namoro meio atribulado…

A rapariga gesticulava e tu sorrias…Sacana…

Eras mesmo bonito… sedutor…

E quando ela por fim saiu, feito furacão, tu sorriste, levantaste-te e vieste ao meu encontro e de repente um beijo me roubaste…

Teus olhos castanhos brilhavam malandros… E eu meio perdida fiquei…

E até hoje, naquela mesa me sento… Teu ar irreverente recordo e sorriu porque a recordação me faz bem…

 

 

                                                                     30/Julho/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

Número 3

 

Já havia alguns meses, que ele todos os dias a ia ver à Pastelaria onde trabalhava…

Ali estava ela com a ternura e a mesma beleza do primeiro dia.

Os seus olhos brilhavam quando percebiam que ele estava ali perto de si, com aqueles olhos avelãs, mais doces e marejados de água… Talvez emocionados porque alcançavam os seus…

Mas nenhum dos dois tinha a merecida coragem de dizer o que o coração sentia e o que a alma sonhava…

E todos os dias eram iguais como se de um ritual se tratasse:

- “ Um compal de pêssego, se faz favor!”

- Fresco ou natural?

- Fresco.

- E que mais?

- Uma torrada com pouca manteiga!

E comia lentamente a torrada e bebia sofregamente o compal, com aquela mesma expressão de desejo e ao mesmo tempo tímida…

O mesmo todos os dias…

O mesmo acontecia há algum tempo…

Acontecia há alguns meses…

Seria assim sempre?

Deixaria de ser ritual?

Passaria para além mar?

 

                                                                   30/Julho/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

Número 4

 

E todos os dias quando chegava ao trabalho, ligava o ar condicionado para o quentinho…

Estava frio lá fora…

Mês de Janeiro… Gelado… Cinzento… Pouco envolvente… Enfim pouco havia que me fizesse sorrir…

A não ser quando me sentava em frente ao meu “pc”, abria o meu “mail” e lá estava mais uma mensagem… mais boas notícias… mais alegria… mais cor… Tudo via Internet… Até podia não ser real, mais alegrava o meu coração, preenchia a alma.

Pequenos excertos que ele procurava para me mimar… Podiam até ser de alguém, podiam nem ser os mais indicados, mas sabia bem lê-los todas as manhãs…

A distância que temos um do outro, países distantes, não existia, era como se vivêssemos na mesma cidade, no mesmo prédio…

Aproximava-nos a mesma empresa, os mesmos assuntos, os mesmos problemas…

Até a mesma história de amor…

Muitas vezes ele diz que vamos ainda viver um alinda história de amor e que vamos ficar juntos, e eu até acredito porque a vida dá muitas voltas… e até conhecer outro país até me atrai… perder a rotina e adaptar-me a novas as regras, a uma nova sociedade…

Quem sabe o tempo o dirá!...

 

 

                                                                   31/Julho/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

Número 5

 

“Bacardi” com “cola” ou “wiskie” num copo alto fazia-a esquecer as quantas mágoas a vida lhe tinha dado…

Sempre vivera só, mesmo acompanhada…desde os 14 anos, altura em que perdera a sua melhor amiga, a sua irmã…

Crescera tentando fazer tudo duplamente, por si e por ela…

Mas com a chegada dos trinta, acordara para a realidade e tudo aquilo que tinha para descobrir, tudo aquilo que pensava ser de uma maneira, era de outra…

Estava mesmo sozinha… Os seus pensamentos eram só seus, os seus sonhos não passavam disso, de sonhos azuis que alimentavam o seu ser, mas que dificilmente passariam à realidade…

E vivia triste, só, abandonada…

Mas alguém num sopro de vento lhe murmurou…

- Acorda, olha à tua volta, acredita e caminha, pois vais conseguir… vais chegar lá!... Vais deixar marca…

 

                                                                                  31/Julho/2004

                                                   Mª José Ludovino

 

Número 6

 

E mais uma vez o avistava ao longe…

Oh, meu Deus! Aquele homem…

Aquela farda verde seca bem posta, naquele corpo musculoso…

Aquele “Deus Grego” novamente a despertá-la… A acordar o seu triste coração, sacudir sua alma esquecida…

Queria conhecê-lo… Queria ao menos ouvir a sua voz… sentir o seu cheiro másculo…

Ele olhava em volta… Procuraria alguém?!...

E sem percebe como, ele dirigiu-se para a sua mesa, como que adivinhando os seus pensamentos e pela primeira vez, os seus sonhos estavam a realizar-se. Sua voz era firme e doce ao mesmo tempo:

- Boa noite! Peço desculpa, mas você trabalha aqui no Shopping? Quase não conseguia responder, a sua voz não queria sair, mas a custo lá conseguiu responder:

- Sim… sim trabalho.

- Conhece uma moça que costuma estar ali na loja dos telefones?

- A Ana Maria?

- Exactamente…

- Acabou de sair para jantar com o marido, mas demora pouco, de certeza…

- Ainda bem… Preciso de falar com ela e com o meu irmão…

- Ah, são da sua família!...

- Sim…sorriu… Posso ficar aqui ao pé de si?! Abanou que sim com a cabeça, sem coragem para dizer mais nada… Olhavam um para o outro em silêncio, com um brilho no olhar, como que adivinhando um futuro próximo…

 

 

 

 

                                                               25/Outubro/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

  Número 7

 

E todos os dias ela atendia o telefone da mesma maneira suave e inquietante:

- Marques e Pereira, advogados, Bom Dia! Esta a falar com a Joana…

- Bom dia Joana! Como está? Pedro Neves, a falar.

- Como tem passado Dr. Pedro? Ainda não chegou ninguém, só mesmo eu! – E sorriu.

- Como sempre pontualidade britânica! Um exemplo a seguir…

- Acha, Dr. Pedro?

- Sim… Você é um exemplo a seguir em muitas outras coisas…

- Assim fico sem jeito, Dr.

- Chame-me de Pedro…

- Mas aqui…?! Aqui tem de ser Dr.…

- E fora daí? Tratava-me por Pedro?

- Fora daqui, como?

- Se tomássemos um café?

- Um café…? Eu e o Dr?

- Sim. Simplesmente a Joana e o Pedro…

- Está bem. – E quando agendaram para o dia seguinte, no shopping perto do escritório de advocacia, Pedro não queria acreditar, a sua alegria matinal… o seu sorriso… Tudo indicava um continuar em frente…

 

                                                                25/Outubro/2004

                                                                Mª José Ludovino

 

Número 8

 

E passaram doze anos, desde o primeiro olhar…

Ângela fora trabalhar como secretária e António já trabalhava lá…

A ternura do olhar que emitiram um pelo outro foi mediático e com o passar do tempo a amizade ficou amadurecida…

Um entendimento mútuo, uma grande cumplicidade, um grande amor…

Um amor que foi crescendo e que no momento estava maduro…

Ambos tinham seguido caminhos diferentes e apesar de terem perdido por várias vezes o contacto, voltavam-se sempre a ver-se…

Ângela continuava à espera, pois a esperança é a última a morrer…

Amava-o perdidamente, mas aceitava que fosse assim… Tinha-o de vez em quando e nesse momento tudo era esquecido… Preferia tê-lo assim há doze anos do que não tê-lo…

Sabia que era para ela, que ele voltava acima de tudo, quando as suas amigas “coloridas” perdiam o interesse…

E que era nela que ele confiava os seus maiores segredos e as suas vontades, a sua amiga, a sua “metade” ainda que não em pleno…

Um dia… Talvez ele perdesse a ideia de viver das aparências, acabasse de vez com o seu casamento, chegasse a si dizendo:

- Quero-te só para mim… Já chega de tempo perdido! Tenho um sítio para ficarmos juntos para sempre…

E o sonho alimenta a alma… E a alma é o suporte do ser…

 

                                                                                                                                               25/Outubro/2004

                                        Mª José Ludovino

 

 Número 9

 

Sapatos Vermelhos de salto estreito, tipo agulha…

Sapatos Vermelhos de veludo…

Macios como a tua pele…

Esses sapatos vermelhos que não me saiem da cabeça…

Vermelhos como os teus lábios…

Lábios carnudos e humedecidos…

Rodopiavas nos teus sapatos vermelhos…

Esbelta e linda…

Parecias uma princesa, uma deusa grega…

O vento levantava ao de leve o teu vestido, acetinado na cintura, mas esvoaçante…

Mas tuas pernas descobria, à medida que saltitavas nos teus sapatos vermelhos…

Vermelho… Vermelho…

Veludo…Veludo…

Cetim…Cetim…

Tua cor preferida de certeza seria o vermelho…

E cada vez que acordo a primeira coisa que me vem à cabeça são os teus sapatos vermelhos, tua boca carnuda, tua cintura acetinada…

Tudo num círculo… Tudo a rodopiar…

 

 

                                                                25/Outubro/2004

                                                                 Mª José Ludovino

 

Número 10

 

Finalmente chegara ao seu refúgio no meio das montanhas…

Tudo estava repleto de orvalho e cheirava a natureza…

Essa maravilha do mundo… que em certos sítios o homem ainda não tinha penetrou, não teve tempo de destruir…

A sua casinha meio escondida, meio arrozada e coberta de eras, dava-lhe um ar envelhecido e muito acolhedor!...

Que Paz imensa sentia por poder usufruir de algo grátis!...

A Natureza!

O mundo!

O seu eu em conformidade com o seu subconsciente…

Podia relaxar… sem pensar na correria do dia a dia…

Podia pensar…

Podia sonhar…

Podia escrever as suas passagens… as suas ideias mais intimas…

Podia ler… Podia devorar cada palavra, cada letra sofregamente…

Podia ser ela própria sem ter de fingir para uma sociedade fria e falsa…

Sonhava em ser feliz…

Em ter o seu lugar ao sol…

Uma linda flor plantada num jardim, singela, mas magnifica pela sua simplicidade…

Queria deixar marca… dizer ao mundo aquilo que a sua alma procurava e o seu coração sentia…

E ali tudo evidenciava a ir em frente…

Recostava-se no seu velho cadeirão, recuperado da casa de sua avó, pegava no seu caderno, na sua caneta e “voilá”, as palavras surgiam umas atrás das outras, caminhavam lado a lado da brisa suave existente daquele pecado… Pecado não!

Chega a ser tão maravilhoso, tão intenso que eleva o espírito a tal…

Voando na brisa do subconsciente para uma dimensão mais além…

 

 

26/Outubro/2004

Mª José Ludovino

 

 

 Número 11

 

Tinha ido ao Instituto do Sangue doar o bem mais precioso que o ser humano tem para dar a outro ser humano: sangue!

Encontrava-se já deitado e ia começar a operação que fazia há alguns anos, quando reparou que em frente em si estava uma rapariga que aparentava ter menos meia dúzia de anos do que ele próprio, com umas rosetas na face, branquinha de pele, quase neve e com uns olhos verdes translúcidos…

Estava um pouco nervosa, pois tinha estado com dificuldades, as suas veias eram difíceis de achar…

- Não vai doer! – Exclamei.

- Não sei, não sei! – Respondeu meio assustada.

- Sério, sério… Falo a sério e com conhecimento de causa. Já dou sangue há algum tempo!...

- Eu é a primeira vez… É para o meu irmão mais pequeno…

- Sim?

- Sim, tem uma doença grave…

- Vai ficar tudo bem!...

- Deus o oiça! – E uma lágrima caiu dos seus olhos…

Se de facto Deus existisse ia fazer com que corresse tudo bem…

A lágrima a cair fazia com que ao rolar pela face, realçasse ainda mais o seu rosto bem delineado…

Parecia uma boneca… daquelas do tempo das nossas avós…Linda e inquebrável!...

                                                                                                                                                      26/Outubro/2004

                                                                 Mª José Ludovino

 

 

Número 12

 

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena…”- Uma citação do nosso poeta “Fernando Pessoa”, que ilustra a vontade do ser humano que quando quer, caminha sem medos e segue em frente, aproveitando tudo aquilo que a vida lhe pode dar…

Desfrutando a sabedoria…

Conhecendo e realizando novas experiências…

Indo mais além…porque o saber não ocupa lugar…

Por isso valerá a pena… Quando a mente vagueia…quando o nosso ser desperta para várias coisas, fazer coisas novas, coisas que nunca pensámos fazer, que nunca nos tínhamos lembrado, mas que num ápice, passou pela nossa cabeça e como que sem perder mais tempo, agarramos a ideia, analisámos e pusemos em prática…

Várias alheações poderão tirar do novo conhecimento…

A nossa alma fica mais completa porque não é pequena…


 

Maria José Ludovino

Em 26 de Outubro de 2004

 

 

Número 13

 

Caiem as folhas…

Arrefece o tempo…

Um casaco tenho de vestir,

Fresquidão…

Mas entristece a alma…

Fico à espera de um sorriso…

Fico à espera de ouvir-te…

Fico à espera de sonhar!...

Fico…fico meio paralisada,

sem vontade de nada…

Está húmido lá fora,

preciso desse teu calor

para conseguir ir em frente…

Preciso dessa voz que evidencia e

esse teu ar trafulha…

Um trafulha adorável…

Sacana… às vezes meio mauzinho…

Mas até gosto…

Gosto pela sensibilidade,

gosto pela diferença: - “José Régio”…

Enfim…

Tudo vale a pena quando a alma não

é pequena: - Fernando Pessoa…

Sim e vale sempre a pena saber mais…

Absorver todo o conhecimento que

temos ao nosso alcance!

E tu comprovas isso…

E por seres diferente,

conseguiste atrair a minha atenção!...

E eis que o telefone toca…

Serás tu?...

 

 Número 14

 

“Open up your eyes…”

 

Abre os teus olhos …

Olha à tua volta…

Observa a vida e tudo o que te rodeia…

Toma atenção ao amor das pequenas coisas…

Inspira o perfume da natureza…

Saboreia a água das fontes…

Sente o vento na face…

Deixa-o envolver-te e sonha…sonha…

Sonha com a felicidade…

Anseia cada dia…vive-o como se fosse o último…

Continua a caminhar…

Continua coma força de sempre…

Não caias…vais conseguir, vais chegar lá…

Vais encontrar o teu “eu”…

Vais ser feliz!...

 

 Maria José Ludovino

11/Novembro/2004

 

Número 15

 

 

Do you love me?

 

Do you realy love me?

 

Sinto que sim… Continuas a tocar-me da mesma forma…

Continuas a procurar-me nas frias noites de Inverno…

Encaixas o teu corpo no meu e eu deixo-me levar da mesma forma apaixonada que sempre senti, nestes nove anos…

O que nos afastou?

A vida…as tristezas… A mesquinhez…

Deixamos meu Amor tudo…

Lost… Everything is lost?

I just think about …everything… and i don’t understand…

Tínhamos  um amor tão forte…

Perdido…Perdido no tempo…

Perdido no espaço…

Achas que ainda é possível?

Reencontrar o nosso Amor perdido?

Achas?

Do you think so?

 

Maria José Ludovino

26/Dezembro/2004

 

Número 16

 

E todos os dias eu avistava aquela mulher que chegava à mesma praia que eu…

Descia devagar cada degrau até à areia e caminhava junto ao mar…

Abraçava-se ao seu casaco de malha cinzento, como que para abrandar o frio que se fazia sentir e depois levantava os braços para o céu, inalava o cheiro daquele mar e gritava:

- Eu amo-te mar! Amo-te mar!...

És a minha força! És a minha vida!...

Depois sentava-se no chão, agarrava os joelhos e balançava-se para lá e para cá.

E todos os dias eu assistia inerte a este ritual.

Era linda e o dourado do seu cabelo criava reflexos na espuma do mar…

Sei que ela se sentia só e que ali ficava bem.

Mas todos os dias mais empolgado ficava quando a via chegar… E tinha vontade de descer até perto dela… O que me impedia?

Aquilo podia ser mesmo um ritual. E um ritual sagrado! Será que poderia interromper o profano no sagrado?

Será que aquela linda mulher afinal existia?

Não seria fruto da minha imaginação?

Terá ela notado algum dia a minha presença?

Se sim porque teria continuado com tudo aquilo?

Se não, não iria fugir se eu me aproxima-se?

Mas o surpreendente aconteceu… Ela levantou-se e caminhou até mim… Perguntou-me e eu senti-me a sonhar:

- Tu também amas o mar?

E eu sabia que sim, mas não consegui responder, simplesmente fiz que sim com a cabeça.

Então ela sorriu e pegou na minha mão dizendo:

- Vem, daí…

E então ficamos os dois sentados em frente ao mar, no silêncio das suas ondas, na beleza majestosa da sua espuma…

 

 

 Número 17

 

Afastara-se há muito de Deus…

Ou seria Deus que se afastara dela?

A vida tinha sido muito injusta…sofrera numa constante e então achava que seria normal, Deus a ter abandonado. Ou será que nunca existiu?

Em tempos tinha Fé, mas agora contestava tudo e todos e aqueles que até Fátima vão rezar e pagar promessas… Arrastam-se no santuário mendigando Fé…

Mas será que se Deus existisse, era assim que queria os seus fiéis? Mendigos de Fé?

Não concordo e não está escrito em lado nenhum que era preciso rastejar perante Deus…

São os homens pecadores que inventam rituais e impõem aos outros que os sigam! Tristeza… Se Deus existisse, não iria querer que fizessem isso como manifestação de Fé!

Vivemos num mundo tão promíscuo que até acho que vão lá, só para os outros verem que foram lá… e não porque têm fé…

Enfim… Em que acreditar? Oh Deus!

Lembraste de mim?

Estarei errada?

 

 

 

 

 

 

Número 18

 

Lembrara-se de tudo daquele decisivo dia.

O dia ou melhor a noite em que ambos se tinham dado. Dado numa longa noite de Amor… Uma noite reveladora de mistérios jamais conhecidos…

Desde que se separara nunca mais tinha feito amor e queria muito fazê-lo com alguém que soubesse dar valor aquilo que é o próprio Amor.

Tinham-se reencontrado no princípio do ano face às sms que tinham trocado pela altura do Natal e da passagem de ano.

Fazia quase dois anos que não se viam. A vida tinha quebrado uma amizade surgida pelo trabalho, que os obrigava a conhecerem-se melhor. Ela tinha estado distante numa terra do interior e tinham perdido o contacto até essa data.

Mas no fundo sabia que a haveria de encontrar e eis que ela se lembrara dele e lhe enviara uma sms.

Nem queria acreditar, já tinha desistido de ligar para os números sempre inacessíveis ou desligados. Contactos perdidos e alterados. E quando ela lhe perguntou se queria tomar um café, escondeu o seu entusiasmo para não parecer pateta.

Estava ansioso demais quando chegou a hora do café e a avistou perto do centro comercial onde combinaram encontrar-se. Estava bonita na mesma. Um pouco diferente, mas sempre elegante.

Falaram a tarde toda. Relataram factos das suas vidas semelhantes e a amizade que tinha sido interrompida, surgira  fortalecida e com um doce gosto a algo mais.

A partir dai os encontros foram-se sucedendo até aquela noite de Amor. O encaixe tinha sido mútuo e nem queria acreditar que tinham trocado juras de amor.

Recordava-se ainda dos pormenores de seu quarto: - as caixas de madeira alinhadas duas a duas, redondas e quadradas, os perfumes, os seus frascos do maior para o mais pequeno, o cesto com pinturas: - batons, lápis, sombras e blushs; as fotografias, os cds alinhados por secções; os livros que lera dos que não lera, o endredon fofo e sedoso e ela, meio trémula, meio perdida numa situação descontrolada.

Suas mãos geladas entrelaçadas, seu sorriso meio atrapalhado, mas um brilho intenso no seu olhar… Um olhar doce e meigo que jamais pensara que pudesse existir.

Um rosto quase perfeito, uns lábios rosados e pequenos, um nariz perfeito, uns dentes pequenos e brancos. Duas mechas de cabelo batiam ao de leve nos olhos e ela suavemente retirava-as do rosto.

E quando conseguiram entregar-se perdendo a timidez que ambos sentiam, a respiração acelerou, os corações disparava e a adrenalina subiu…

Tinha vencido o Amor que ambos sentiam um pelo outro e agora desciam dos céus com os pés bem assentes na terra. Sabiam que tinha valido a pena sofrer tanto tempo, pois a partir daí seriam um do outro para todo o sempre.

 

 

Maria José Ludovino

3/Fevereiro/2005

 

Número 19

 

Será que este amor que sinto por ti, vai vencer na vida?

A vida complicada e cheia de atropelos que ambos temos?

Sei que me dizes para relaxar, para ter calma…

Pois bem, Sofia! Tenho uma ansiedade tão grande em ter-te, em sentir-te todos os dias, que não sei se vou suportar a distância que nos separa.

Perguntas-me se tenho dúvidas do que sentes… Pois bem, dúvidas toda a gente as tem e eu mais do que nunca, porque estamos separados pela distância norte-sul, ou centro-sul, sei lá como denominar os muito kilometros que nos separa.

Não entendo porquê, queria que estivesses aqui todos os dias. Queria acordar contigo a meu lado, sentir o cheiro da tua pele, o doce toque dos teus lábios.

Se nos amamos, porque é que temos de ter calma?

É que a vida é um tempo de férias, umas curtas férias que a morte nos dá para sorrirmos…

Então? Quando vens? Quando vens de vez para mim?

Quero-te nestas férias, quero-te todos os dias…

Não sei viver sem ti… As noites são longas demais e os dias não têm o brilho da luz do sol.

Quero o teu sorriso que ilumina a minha vida, quero o teu amor!...

 

Maria José Ludovino

4/Fevereiro/2005

 

Número 20

 

Antes de ti Miguel, eu já sonhava com uma vida assim… Tranquila…

Sentia que chegavas a casa com o teu olhar calmo eternamente pousado no meu… As tuas mãos maiores e mornas nas minhas… E a certeza que o amanhã será sempre assim… sereno… Um amanhã com muitos dias, quantos Deus permitir que as nossas respirações se misturem numa só…

Sempre sonhei acordada e a dormir contigo, Miguel!...

És como um anjo que se deitava comigo e me fazia festas na minha testa e me sussurrava ao ouvido que eu era uma princesa e que ia ser feliz!

E todas as minhas decepções eram guardadas no baú, porque sabia que um dia alcançaria a minha boa estrela. Ainda não sabia quando te ia encontrar, mas já imaginava a cor dos teus olhos e como seria o tamanho das tuas mãos. Mas quando soube que eras o tal e senti que para sempre ia ser feliz!

Lembraste? Lembraste daquele dia que chovia sem parar? E tu estavas em baixo de uma janela que te protegia da chuva e me puxaste para o pé de ti, evitando que me molhasse? E quando falámos e eu ouvi o tom da tua voz, respirei fundo e percebi que não era um equívoco, eras tu!

Aquele sonho tantas vezes adiado.

E foste ficando, deixando de ser um sonho.

Agora fazes parte do meu dia a dia, fazemos parte da vida um do outro e já nem me lembro como eram os dias entes de me entregar a ti.

Só me lembro que eram vazios e sem cor.

E sei que agora são repletos e cheios de magia…

A magia de um grande Amor!...


 

 Número 21

 

Porque?

 

Porque será que quanto mais escrevo, mais vontade me dá de escrever?

Já houve um tempo em que nenhuma palavra brotava da minha mente…

Um tempo em que o vazio se ocupou da minha alma e não me deixava fluir os meus pensamentos…

Um tempo que já esqueci…

Uma página difícil de virar, mas que já virei…

Apesar de no momento me sentir ainda fraquejada pelo passado e que tenho pouco alento ainda para sorrir, consigo perceber que se calhar vou voltar a caminhar com a força que no antigamente tinha para continuar…

O que será que mudou?

O que me fez acordar?

O que me libertou?

Foi talvez o acordar e chegar à conclusão que já chegava de sofrimento, que já chegava de tortura psicológica…

Que afinal eu valia alguma coisa…~

Que a culpa não era só minha…

Que ainda existia algo no fundo de mim que queria renascer para a vida e então renasci…

Tento acordar todos os dias com a força e vontade de ir em frente…

O meu sonho continua, não só o de escrever, de deixar marca, como também aquele que um dia ainda serei feliz!

Para isso estou nesta vila, para tal respiro um novo ar…

Talvez aqui esteja o meu céu azul…

Talvez aqui encontre o refúgio certo para sorrir…

E as palavras saiem de novo do bico da minha caneta, expelidas pelo sussurro da minha alma…

Letras redondas e bem delineadas como uma boa aluna de português que sou.

E porque escrevo? Escrevo porque é mais fácil escrever do que falar…

Escrevo porque não há muita gente que queira escutar…

Escrevo porque gosto de sonhar, de fantasiar outras vidas, outros mundos!

Escrevo porque eu sou várias pessoas, consigo ter várias personalidades…

Escrevo porque sou versátil…porque observo e devoro cada momento…

Cada dia, como se fosse o último…

Escrevo porque sou assim, sou capaz de ser eu…

Porque pela escrita evidencio o que sinto, o que anseio, o que sonho!

Aqui posso dizer tudo… Aqui posso vaguear sem ferir susceptibilidades…

Escrevo porque ninguém é obrigado a ler e se calhar se eu falasse era obrigado a ouvir…

Escrevo porque escrever é a minha arte…

Arte de jogar com as palavras, como quem joga com as cartas…

Escrevo porque me faz feliz escrever… E assim com as palavras posso ser eterna e de outra maneira jamais o seria….

Podem achar que é puro egoísmo, mas para qualquer escritor, ser eterno é deixar marca…

A marca de ser imortal… Pois os livros passam os séculos e o homem nem um século vive…

A minha cabeça este em constante movimento…vai para muitos sítios…observa muitas cores, muitos sabores…

A minha imaginação reina no mundo da realidade, o sonho de um final feliz onde aqui é fácil sê-lo, pois nos meus romances sempre há um final feliz…cor de rosa, como os vestidos das bonecas que brincámos em meninas.

Não há pesadelos, poderão existir obstáculos que as personagens ultrapassam como heroínas.

E assim é tudo mais azul, mais cor de rosa…Porque não?

A vida já é tão negra… Por isso escrevo… Pelo desenlace feliz, pela cor alegre, por aquele sorriso que sei obter, quando alguém lê os meus livros, as minhas histórias, os meus pensamentos…

Quem os lê termina inevitavelmente com um sorriso nos lábios e uma paz de espírito imensa…

Voando rumo ao subconsciente!...

Voando rumo ao sonho... À felicidade!

Porque escrevo?

Porque me faz feliz… Porque é uma característica inata…

Nasceu comigo e comigo vai morrer…

 

Maria José Ludovino

6 de Fevereiro de 2005

 

 Número 22

 

Até hoje ainda não percebi como nos teus braços caí… como na tua vida me envolvi… como no teu ser mergulhei…

Ainda hoje não percebo o porquê de tudo ter começado…

De tudo ter começado e de tudo ter terminado…

Acusas-me de tudo e do nada…

Sinto-me vazia…perdida…neste mundo tão falso…tão mentiroso…

Lembro-me da ternura dos teus olhos… da doçura dos teus lábios… da tua respiração ofegante…

Lembro-me de tremer nos teus  braços… de delirar de prazer… de jamais querer adormecer…

Lembro-me de uma vida que começou… de ter vivido contigo… de ter acreditado…

Sonhei mais uma vez e afinal de que valeu a pena?

Se mais triste fiquei?

Se mais vazia estou?...

Se nada tenho?

E tudo porquê?

Só porque quis ser de novo feliz…

Só porque me envolvi num teatro, sim… teatro…

Tudo não passou de representação da tua parte…

Fingimento…

Falsidade…

Tudo foi uma mentira…

Uma mentira na qual me envolveste e não tiveste capacidade para ir mais além…

Enganaste-me nesse teu sorriso meigo… nessa tua voz trémula…

Seguraste-me… melhor impediste-me de cair… Mas porquê?

Se agora deitaste-me para fora da tua vida?

E ainda me desejas sorte?!

Vai-te lixar!

Hás-de sofrer como me estás a fazer sofrer a mim!...

 

Maria José Ludovino

Em 25 de Abril de 2005

 

 

 

 

 Número 23

 

Um copo de bebida, não importa qual…

Um cigarro não importa a marca…

Uma música de fundo…

E as andorinhas voam…correm…correm…

Fazem de novo os seus ninhos… nesta primavera quase verão… Umas atrás das outras… pegam em pequenos rebentos de árvore, em pequenas folhas e lá vão fazendo a pouco e pouco o seu ninho…

E chilreiam alegres neste céu azul alentejano…

O dia acaba, mas elas ainda não deram por terminado o seu trabalho de hoje!...

E eu… E eu continuo a escrever mais rápido que o meu pensamento…

A caneta transmite para este papel, o que me vai na alma, aquilo que o meu coração sente!...

Sente… O que ele sente? Um vazio enorme… Uma tristeza imensa… Uma dor profunda… Doença de amor! Tristeza e amargura do perder…

Perdi-te Amor, antes da chegada da Primavera, perdi-te e não percebo porquê…

É difícil continuar neste percurso sem cor…

Dava tudo para voltar atrás… para não ter cometido os erros que cometi… Mas sabes amor? Não fui só eu que deixei de lutar… Não fui só eu que perdi… Tu também perdeste… Perdeste esta tua amiga que o único pescado que cometeu foi acreditar de novo… Pensar que existia, mas o que tinhas não era para mim…

Que pena… Penas leva-as as andorinhas no seu voar…

E tu não posso assim estar, tenho de conseguir continuar, porque a vida não pode parar…

 

Maria José Ludovino

25/Abril/2005

 

 Número 24

 

E sem saber como… sem perceber porquê… mas aquele sorriso sedutor levou-a a sério…

No fundo do seu ser sabia que não podia cair em tentação, mas adrenalina, o sangue a subir, o coração a acelerar…

O jogo da sedução era irresistível…

E deixou-se continuar… Criou uma forma dele saber que adorava o seu sorriso… Uns bilhetinhos no vidro da carrinha… à noite, pela calada… quando todos dormiam…

E ele começou a sorrir mais quando a avistava… Mas ninguém podia perceber tal situação…

Ela estava ali há pouco tempo e ele vivia com uma rapariga…

Mas ao fim de uma semana de trocas de olhares e sussurros escondidos nas arcadas do prédio, ela deixou-o subir e depois não houve mais entraves…

A atracção que sentiam um pelo outro era imensa…

Um desejo perturbador…

Uma entrega total…

E foi assim durante algum tempo…

A brincadeira de se esconderem… O jogo, a sedução…

Mas um dia sem perceber como nem porquê, ele evaporou-se…

Ouviu dizer que fugira para Espanha, que tinha alguns desacatos com a justiça…

Doida, era mesmo doida… Só se metia com homens sem escrúpulos, vulgares…

Sem saber dar resposta, já não era a primeira vez, nem seria a última que vivia situações perigosas e ligações obscuras que subiam a adrenalina e o sangue fervia, mas que depois em nada davam…

A vida fazia-a cair na realidade ou o destino alertava-a e voltava a si…

 

Maria José Ludovino

25/Abril/2005

 

 

 Número 25

 

 Sentia-se mesmo nas nuvens…

Ainda há poucos meses se sentia perdida no tempo e no espaço… A relação com Pedro tinha terminado e deixara-a com uma secura na boca, que água nenhuma conseguia tirar e já estava deitando fogo por Lourenço.

Conhecera-o numa festa da paróquia, paróquia do interior, que tinha ido dar aulas. Fora substituir uma professora que tivera um bebé.

A música saloia tocava ao fundo, a carne grelhada no grelhador, a cerveja saltava fresca dos recipientes cheios de gelo.

E lá estava ele com aquela camisola de alças, colada ao corpo suado e aquele sorriso sacana e sedutor.

Pegou-a para dançar e ela sentiu aquele cheiro másculo, com after shave barato misturado com cheiro a suor.

E ela rodopiava, rodopiava.

Aquelas mãos grandes seguravam-na não deixando espaço entre os dois corpos.

E as estrelas brilhavam no céu negro, iluminando aquela aldeia.

Havia também uma brisa fresca que desorientava os seus cabelos.

Pararam de dançar…caminhavam lado a lado numa estradinha de terra batida.

Passavam por uma casa meio abandonada e sem esperar, ele puchou-a para dentro. Encostou-a à parede e beijou-a sofregamente.

Suas mãos deslizavam por todo o seu corpo e ela não conseguia resistir.

Ao fundo havia um quintal e no fim do quintal estava um tractor estacionado.

Havia fardos de palha por todo o lado.

Antes de poder respirar ou dizer alguma coisa, já estavam os dois em cima da máquina agrícola e ele penetrava-a bruscamente, aquela dor dava-lhe imenso prazer.

Aquele homem possuía  como nunca ninguém o tinha feito, nunca em tempo algum fora possuída assim… Sentia-se promíscua. Mas toda aquela situação a excitava Os orgasmos eram atrás uns dos outros. Cavalgava em cima dele num frenesim louco. Ele apertava-lhe as mamas até os dedos ficarem marcados.

Ele parou e atirou-a para cima da palha. Enfiava-lho por trás, agarrando-lhe os seios tesos e enormes de desejo. Apalpava-lhe as coxas. Deitou-a de costas, rasgou-lhe a blusa, erguia-lhe as pernas nos seus ombros e entrou de novo, duro e feito pistolão.

Nunca tinha sido usada daquela maneira. Nunca tinha feito sexo dessa forma. Puro! Uma experiência única.

E quando ele chegou ao fim, havia fluidos nos seus seios, na sua barriga, nas suas pernas.

Sentia-se como uma prostituta, mas jamais tinha sentido tamanho prazer…

Estava sentada no sofá de sua casa, fumava um cigarro e ainda tinha o gosto dele na sua boca, sentias as mãos dele. Sentia-o… Como conseguiria esquecer?

E todos os dias quando passava por aquela casa, por aquela estrada, avistava o tractor e a palha, sentia-se a ferver… Sentia-se estremecer…

Sentia-se mulher!

 

Maria José Ludovino

17/Maio/2005

 

 

 Adorava o seu cabelo… Longo e cheio de nuances avermelhadas…

O seu cabelo reflectia um pouco da sua rebeldia, uma rebeldia que habitava em todo o seu ser…

De quando em vez abria uma risca que ninguém percebia porquê…ou então arrebitava dos lados…inquieto…

Rita sabia que transparecia ser uma pessoa cheia de vida e que corria de um lado para o outro num frenesim louco, mas nunca descuidava o seu cabelo…

Adorava chegar a casa e tomar um duche fresco, principalmente no verão e de água fria…

E estávamos no verão em pleno mês de Julho.

Pegava no seu champô para cabelos pintados e inalava o seu cheiro inconfundível a rosa silvestre, daquelas que crescem por aqui e por ali e que transparecem uma beleza natural e inexplicável da natureza…

Sentia a suavidade da sua espuma protectora que escorria pelas suas costas.

Uma massagem relaxante que começava na sua cabeça, mas que por milagre relaxava todo o seu ser…

Era o ir mais além… Subir às nuvens azuis e fofas… Ouvir a água a correr dos rios, sentir a frescura do orvalho nas plantas…

Ter vontade de comer cerejas, amoras, mirtilhos…

Uma cor rosa…Uma cor sensual… Sentia-se mais sedutora que nunca.

Deixava secar o seu cabelo ao relento, vestia um vestido vermelho com flores brancas, esvoaçante…

E pé a pé caminhava com o seu cabelo longo e sedoso que por onde quer que passava deixava o seu rasto de um cheiro e beleza inconfundíveis…

E todos os homens ficavam encantados com a sua presença e sonhavam em tocar o seu magnífico cabelo, em tê-la nos braços…

E qualquer mulher que a avistasse, procurava descobrir o seu segredo temendo não ser tão desejada como ela…

Mas Rita sabia que todo o mistério que a envolvia se devia ao facto de amar a vida e de dar valor ao que era como mulher, por isso cuidava de si e caminhava sempre em frente com a força e alegria proveniente de Deus…

 

19/Junho/2005

Maria José Ludovino

 

 Número 27

 

18/10/2005 (Expresso para Beja)

 

E o expresso avança…

Passa por Évora… Não, não estás aqui…

Estás mais à frente… Beja… Mais uma cidade do Alentejo, este Alentejo que nos proporcionou conhecermo-nos…

Neste tempo todo que aqui estive, secura tive na minha vida, mas agora sei que o bom que tive foi verte, foi ter-te, foi sentir-te…

Nada mais… Mas este nada é um tudo!

Um tudo que quebra a distância, ultrapassa mil barreiras para estar juntos… É mesmo amor!... Um amor ainda pouco assumido…

Talvez porque os nossos caminhos tem de seguir rumos diferentes… Tu lá para cima, mas em Portugal, eu a 3000 mil kilometros de distância…

Não, não queria que fosse assim… Queria a vida facilitada…Mas o amor tudo pode… Move obstáculos…

Aproxima…Reaproxima…

Uma coisa sei que te amo… Um amor maduro, consciente e envolvente…

Nesta fase dos trinta ter um amor como o nosso é pura felicidade, pois o sentimento é enlouquente… maravilhoso…único…

Apesar de sentir o meu coração apertado pelo afastamento, a minha alma vagueia de encontro à tua e unem-se numa só…you are my angel and i will be your wildcat forever.

 

 

Número 28

 

19/10/2005 – Beja

 

E o tempo passa devagar… Sinto o sol na minha face e a brisa do vento nos meus cabelos… Refresca… And… “Music for my mind…” A mente que está repleta de ideias e de vontade de construir… De ir em frente!

Lá dentro do MacDonalds, hora do almoço: escriturários, empresários e mesmo famílias almoçam… Existe um bocadinho de civilização, um pouco diferente da tão parada Estremoz, muito mais, não se fala então de Sousel, vila detestável, que me deita abaixo, mesquinha e cinzenta! Odiável… E tenho que continuar lá. Como é possível? Já passaram tantos meses, bem poucos para os de fora, são seis, mas parecem infindáveis, sempre iguais, monótonos, horríveis!

Tento a todo o custo ir em frente no trabalho duro, que me mata, muitas vezes não é por ser árduo fisicamente, mas porque me destrói psicologicamente. Senão fossem as dívidas que tenho para pagar virava costas. Dava um pontapé em tudo. Agarrava no meu Igor e voava rumo a outro local.

Mas essa hipótese surgiu mais uma vez… Glasgow... Posso levar o Igor e viver lá… Será possível aguentar mais seis meses ou os que calhar, tipo robô, pela causa “dinheiro”? Sim… serei capaz… Mais uma fábrica. Trabalho árduo?

Mas desta vez mais bem pago. Voltaria para Portugal, pagaria o resto das dívidas e poderia respirar finalmente…

Desapareceria de Sousel, evidentemente…

With my little dog and go…

Mas existes tu my Angel, que me fazes pensar e re-pensar. Se conseguisse um trabalho como deve ser. Mudaria de sítio e em Portugal ficaria. É difícil pensar que te perderia… Depois de todas as loucuras já cometidas. E se existir a menina de olhos verdes já dentro de mim? Seria viável partir para 3000 Km de distância? E como conseguiria sobreviver cá? Há muito que não colocava tantas questões. Pois, o robô também pensa… Nos últimos meses tem sido um dia de cada vez… Mas a super-mulher também sonha e sente. Sente que te ama, sente que quer ser feliz, mas os nossos caminhos profissionais tão incertos e pensa e pensa e dá reviravoltas e não sabe o que fazer!

E a música que esta a dar… nos meus ouvidos diz: “ A voice na Angel…” Mesmo a propósito… Anjo… As lágrimas caiem… Oh Deus, se existes ilumina o meu caminho…

Quero acreditar que vou conseguir superar este ano maldito, pior que todos os outros, sendo a única coisa que pretendo que acabe e me dê certezas…Aquelas que luto há tanto tempo, aquelas que procuro…

O meu caminho tem sido tão difícil, às vezes nem sei como ainda não acabei com tudo e pus um fim à vida…

Já tinha saudades de um “Sundae”, gelado com caramelo deste “Macdo”.

Acho que já precisava de ter um dia assim, sem nada para fazer… para pensar, sorrir, chorar… Enfim, não sei!

“ Só sei que nada sei…” Filósofo Grego que acertaste…

E continuo a vaguear sem saber o que decidir… Deixa andar!...

A minha vida por impulsos tem sido vivida… Na altura de decidir, lá chegará a resposta, tipo turbilhão!

Nem acredito que consigo viver assim… Há um ano só, há um ano perdida… Já passei por vários sítios, várias coisas… E vim parar ao fim do mundo… Porquê? Terei cometido tantos erros no meu passado para sofrer tanto?

No fundo no fundo fui eu que escolhi o meu caminho. Existe um destino, uma linha que foi traçada ao nascimento, mas nesse caminho, nessa linha, existem, surgem opções e são essas escolha, essas opções que nos fazem ir de encontro a outros caminhos, a outras situações, um simples sim, um simples não… Tudo modifica, tudo se transforma…

E eu? Porque vim ao mundo? Qual é o sentido para que nasci? Tantas coisas que não sei! Já deveria saber?

Na idade em que estou tanta gente acertou o caminho, porque não acertei eu o meu? Porque me desviei da linha?

Para que nasci? Qual a finalidade disto tudo?

Queria respostas a tanta coisa… Mas o resumo de todo este desabafo é simples:

Serei algum dia feliz?

Sozinha? Acompanhada? Em que local?

E o tempo passa…como a areia que passa entre os dedos… Rapidamente… sem perdoar… Eu sei que a vida é feita de pequenos momentos. Aprendi isso e neste momento é o que tenho “pequenos momentos de felicidade” E eu aproveito-os sem olhar para trás… Porque amanhã podem não existir… “ Por isso sorrirei porque aconteceu… e jamais chorarei porque terminou…” Já os vivi na sua plenitude… Aprendi… A vida ensinou-me isso… “Pequenos”, mas “enormes” momentos. São esses momentos que me dão alento para continuar:

- um bom livro, uma boa música, um bom vinho, um passarito a saltitar, o sol como agora, o céu azul e poder respirar…

Lembrar a noite de ontem… A loucura, o sentimento…

Recordar o calor dos nossos corpos, o estremecer, o gemer, o ser “uno”.

É isso que eu e o meu anjo somos… conseguimos ser um só… Duas almas, dois corpos, dois corações… Então porquê complicar?

É maravilhoso só por existir…

E se a vida nada mais me der de bom, não faz mal, porque já tive esta experiência única e celestial de chegar “ In the top of the world!”

E não quero pensar mais…

Quero aproveitar o sentimento…

Daqui a pouco vou de novo para a monotonia e quero respirar o bom que tem este dia, o maravilhoso que teve esta noite!...

 

 

 

  Número 29

 

A ti minha avozinha….

 

E cada vez que me lembro de como não paravas, da tua energia, dos teus dias imensos e repletos de coisas para fazer.

E eu miúda olhava para ti e sentia um orgulho enorme em ter uma avó como tu, tão dinâmica.

Acordavas pela manhãzinha e lá ias tu, rumo ao trabalho, mas antes lá ficava a canequinha de leite, o “papo-seco” e uma “costa” (bolinho com manteiga), tipo um pão doce, que eu adorava, um bolo caseiro e típico do Alentejo.

E hoje ainda me lembro como arrumavas a casa, a limpeza, o cheirinho a sabão “Clarin” e sabes avozinha cada vez que lavo alguma loiça ou roupa com estes detergentes modernos, que agora quase todos tem o cheiro a sabão, recordo a minha infância e os tempos que passava perto de ti, só era chato quando ralhavas por causa de eu falar com os rapazes, ou quando chegava tarde dos bailes, mas eu no fundo sabia que tinhas razão.

Mas no outro dia lá estava o meu pequeno-almoço e o teu sorriso todas as manhãs.

E hoje querida avozinha, quando te vejo naquela cadeira de rodas, tão velhinha e sem andares sozinha de um lado para o outro, imagino o quanto sofres, pois tu eras uma pessoa tão independente, agora, precisares de tanta gente para te ajudar… É triste…

Mas às vezes Deus tem pressupostos que não percebemos o porquê, mas que Ele lá sabe!

E está tanto frio! Estamos quase no Inverno, as tuas dores são imensas, mas mesmo assim conseguiste estar tão alegre, no último domingo, quando te fui ver.

Falaste tão bem comigo, disseste-me que eu estava bonita e eu fiquei tão contente…

Mas sei que estás muito velhinha, estás muito fraquinha, o teu coração bate devagarinho…

Sei que qualquer dia vais partir e nós todos vamos ficar tristes e o mundo vai perder uma grande Mulher!

Adoro-te avó! És o meu maior exemplo de força!...

Beijo… E até sempre…

Desta neta que nunca se esquece de ti,

Zézita

 

 

Maria José Ludovino

1/Dezembro/2005

 

 

 

 Número 30

 

Dezembro… Mês frio…

Quente talvez na intenção…

O ser humano acorda para o outro neste mês…

A mim chateia-me…

Chateia-me que seja só neste mês…

Que seja só nesta época que se lembrem dos outros, dos desgraçados, dos pobres, dos coitadinhos… Só neste mês…

Só existe a pobreza em Dezembro?

Nasceu agora?

Não pois não?

Então porquê só ser solidário agora?

Falsas demagogias, falsidade humana!

É isso que  me revolta.

Espírito Natalício, qual quê?

Jesus já nasceu há milhares de anos e não foi só em Dezembro. Ele nasce todos os dias…

Está todos os dias ao nosso lado, basta sentir, basta acreditar…

Odeio aqueles que na sua vida só se lembram das causas justas porque é Natal… É Natal o quê?

Natal é todos os dias, desde que o homem queira…

Deus existe sempre, não existe só em Dezembro…

Natal? Onde estás? Aquele Natal em família, em que o Amor presidia? Em que existia Paz…? Em que havia calor…?

Podia estar frio, podia lá fora trovejar, mas nas nossas casas existia o estar em família.

Éramos unidos no ano todo, e a Noite de Natal era o consagrar dessa dedicação, desse estar junto, em família, com todos aqueles que amamos, podia até haver prendas, árvore de Natal, o Presépio, e tudo isso. As filhozes, o bolo rei, o peru… As velas, a lareira, mas existia Amor! Existia a Fé! O crer em Jesus… Existia o espírito Natalício. Os três reis magos anunciavam que o menino nascia e todos ficavam mais unidos… E agora?

Existe o quê? Futilidades e falsidades!... Compras… Prendas… Dar por dar… Dinheiro… E o resto onde esta?

Banalizaram o verdadeiro Natal numa correria aos Centros Comerciais, aos Hiper-Mercados, gastar o dinheiro que não há, muitas vezes oriundos de créditos e empréstimos, ou dos “masters cards”.

O mundo é vulgar! O homem fez-se vulgar…

Natal?

Não existe… Perdeu-se …

Não posso voltar a criança, aí sim… Havia Natal, há trinta anos existia o meu avô, existia o Alentejo…

O borreguinho assado pela minha avó, o arroz doce, as filhozes, a lareira na chaminé. Existia a viola da minha tia.

Estávamos todos, os meus avós, os meus pais, os meus irmãos, os tios e amigos…

Éramos uma família… E à meia-noite cantávamos e bebíamos licor caseiro, o menino Jesus chegara… Mais uma vez: era Natal!

 

 Maria José Ludovino

1/Dezembro/2005

 

 

Um copo de bebida, não importa qual…

Um cigarro não importa a marca…

Uma música de fundo…

E as andorinhas voam…correm…correm…

Fazem de novo os seus ninhos… nesta primavera quase verão… Umas atrás das outras… pegam em pequenos rebentos de árvore, em pequenas folhas e lá vão fazendo a pouco e pouco o seu ninho…

E chilreiam alegres neste céu azul alentejano…

O dia acaba, mas elas ainda não deram por terminado o seu trabalho de hoje!...

E eu… E eu continuo a escrever mais rápido que o meu pensamento…

A caneta transmite para este papel, o que me vai na alma, aquilo que o meu coração sente!...

Sente… O que ele sente? Um vazio enorme… Uma tristeza imensa… Uma dor profunda… Doença de amor! Tristeza e amargura do perder…

Perdi-te Amor, antes da chegada da Primavera, perdi-te e não percebo porquê…

É difícil continuar neste percurso sem cor…

Dava tudo para voltar atrás… para não ter cometido os erros que cometi… Mas sabes amor? Não fui só eu que deixei de lutar… Não fui só eu que perdi… Tu também perdeste… Perdeste esta tua amiga que o único pescado que cometeu foi acreditar de novo… Pensar que existia, mas o que tinhas não era para mim…

Que pena… Penas leva-as as andorinhas no seu voar…

E tu não posso assim estar, tenho de conseguir continuar, porque a vida não pode parar…

 

Maria José Ludovino

25/Abril/2005